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O papel do ebook - Parte 1

O livro digital é a maior revolução no mercado editorial desde a criação da prensa gráfica de Gutenberg. Mas a evolução não para por aí.




Em 2007, a Amazon lançou o 1º Kindle, e em 2009 eles apresentaram a 2º versão do e-reader. Nessa época eu trabalhava como assistente editorial e estava aprendendo de tudo um pouco sobre o funcionamento de uma editora.


Acredito que ter trabalhado como assistente editorial foi fundamental para mim, pois carrego a experiência e muito aprendizado dessa função que, na época, fez uma imensa diferença para mim. E recordo daquele momento quando a Amazon lançou a 2ª edição do Kindle. Embora não fora possível ter adquirido o leitor digital, fui tomado por uma curiosidade sobre o que se tratava esse aparelho. Mas como tudo isso era muito novo e o novo (quase) sempre assusta, o mercado editorial em geral preferiu desconhecer a possibilidade da descoberta desse leitor que, pouco a pouco, começava para ampliar o mercado editorial.


A reação do mercado editorial foi natural, pois, nós, seres humanos, somos avessos à mudança, ao novo, a tudo o que nos leva a mudar, embora seja a mudança a única coisa permanente no universo, já dizia o filósofo Heráclito. Mesmo diante de tal fato incontestável, preferimos permanecer agarrados ao nosso mundo acolhedor, fechando as portas a tudo o que nos faça adentrar em "mundos desconhecidos", mas ainda assim somos forçados a mudar por força de uma lei natural da vida. E é aí que entra o papel do ebook.

Primeiros modelos da versão Kindle.

Se olharmos para trás, aos primeiros anos de nossa existência, encontraremos nas cavernas de nossa sobrevivência os primeiros registros de nossa história. Um marco na vida da Terra. E esses primeiros registros foram por meio de iconografia, imagens pintadas nas rochas, ou seja, a pedra foi o primeiro "papel" onde escrevemos as nossas primeiras impressões.


E nós que hoje atravessamos o século XXI temos as mesmas necessidades de nossos primórdios: expressar os nossos sentimentos, manifestar e retratar o nosso cotidiano, como prova de nossa própria existência, uma marca para as futuras gerações as quais, quem sabe, poderão aprender conosco um pouco sobre a vida, assim como aprendemos com os nossos ancestrais.

Arte rupestre realizada pelos pré-históricos.

Das pedras rochosas começamos a utilizar a argila como recurso imprescindível para a nossa manifestação, e com o desenvolvimento de nossa inteligência o surgimento da escrita, a linguagem como meio de sobrevivência e registro de nós mesmos. Uma prova de nossa existência. E da argila passamos para um novo formato: o papiro. Presente nas margens do rio Nilo, a folha de papiro foi o recurso que os egípcios encontraram para transmitir seus conhecimentos, e assim ao longo dos tempos muitos processos ocorreram e o que antes era apenas uma imagem na rocha, iam se ampliando os meios de expressar tudo o que nos rodeia.

Primeiros registros no papiro.

Hieróglifo - unidade ideográfica fundamental do sistema de escrita do antigo Egito.

Do papiro deu-se à origem ao pergaminho, e surgia então um novo suporte para a escrita, o qual fora muito utilizado durante o período da Idade Média. O pergaminho antecedera o surgimento do papel, o qual seria desenvolvido pelos chineses mais tarde.


Assim, ao longo dos milênios, o ser humano foi aprimorando e desenvolvendo novos suportes à escrita, e de tempo em tempo todo o meio pelo qual transmitíamos o saber ia se transformando, ganhando novos formatos, e o nosso legado de conhecimento, que antes se restringia somente aos escribas e mais tarde permaneceria recluso nos monastérios, passara a sofrer as mudanças do tempo e sendo transmitido de geração a geração.


O alemão Johannes Gutenberg (1396-1468) desenvolveu a prensa tipográfica por volta de 1440, e assim se iniciava um marco histórico na impressão de livros e jornais, sem precedentes. Por meio dessa nova tecnologia, infinitas possibilidades surgiram e novos passos indicavam novos caminhos na história da humanidade.

O alemão Johannes Gutenberg (1396-1468), responsável pelo desenvolvimento da prensa gráfica.

Desse modo, todo o processo de desenvolvimento e criação do livro sofrera as transformações ao longo do tempo. E hoje temos infinitos recursos de impressão capaz de maravilhar todo amante do livro, e histórias que nos fazem desbravar novos mundos jamais imaginados.


E é somente no século XX que temos as primeiras versões do livro digital, os protótipos que antecederiam a origem dos novos aparelhos digitais. Como disse no início do artigo, senti-me cativado a desbravar esse mundo novo, desconhecido, e rejeitado por muitos. Sentia em mim algo a impulsionar a realizar esse trabalho à frente da Editora Astronauta e apresentar ao mundo as maravilhas da nova tecnologia que nos presenteava nos dias presentes deste século XXI.


Vejo no livro digital a ponte para o futuro, um presente do Universo a contemplar os novos passos da humanidade diante da longa jornada, a darmos continuidade nesse processo evolutivo de escrita e formato pelo qual registramos a nossa própria vida.


Fazendo um paralelo ao livro digital, um outro recurso tecnológico também surgiu para impulsionar o nosso avanço: é o caso da lousa digital, que no início parecia que a maioria das escolas iriam aderir ao novo aparelho. E o que vemos ainda nas escolas de hoje? A antiga companheira lousa verde. Isso para mim é de um desperdício imensurável, pois ao recusarmos as novas oportunidades que a vida nos oferece é negar o nosso próprio avanço, pois a a lousa digital não é o fim, mas o meio pelo qual educadores e educandos podem encontrar novos caminhos em busca do saber, e a lousa digital uma ponte para um novo recurso que a vida poderá nos ofertar no futuro. É claro que muitas instituições educacionais já fazem uso desse recurso, mas ainda estamos muito longe de utilizar todos os potenciais que a lousa digital pode nos proporcionar. Negar o que a vida provê é como estar um passo atrás em nossa história.

Lousa Digital.

Ainda em 2019 a lousa verde e o giz fazem parte dos recursos educacionais na maioria das escolas públicas e particulares do Brasil.

Digo a respeito da lousa digital porque, além de também ser uma ferramenta tecnológica assim como o livro digital, atuei como professor quando ainda estava me formando, em 2005. E hoje, 14 anos depois, se eu voltasse a lecionar, provavelmente encontraria o giz e a lousa verde a esperar pela minha escrita.


Voltando à questão dos livros, infelizmente logo no início do surgimento dos primeiros ebooks, a indagação que se levantara no mercado editorial fora: Livro físico ou digital? Isso seria como perguntar para uma criança o que ela prefere: arroz ou feijão? E o ser humano não é ainda uma criança a se desenvolver gradativamente, se olharmos para ordem cronológica desde o Big Bang? Ou seja, não podemos negligenciar a nossa própria história de mudança e transformações ao longo da existência. E tal questionamento a cerca de um formato ou outro é mera tentativa de não dar o devido valor a algo que surgira não por acaso, mas para nos fazer ver o mundo com novas possibilidades de criação, expressão artística, disseminação do conhecimento e acesso à cultura.


Obviamente que cada leitor escolherá o formato que melhor lhe agrada. Isso restringe-se ao campo pessoal. E mesmo sendo fascinado pelo livro digital, tenho imenso apreço pelo livro físico. Um não elimina o outro; pelo contrário, somam-se. Mas indagar entre um formato ou outro, como escolher um em detrimento de outro, e não juntar as peças desse quebra-cabeça histórico e revolucionário, sem expor os benefícios que o livro físico e digital podem proporcionar à sociedade, é como colocar uma pedra definitiva em cima de nossa própria história, até que as ondas de uma nova revolução nos arraste sem comiseração à inegável mudança, a única certeza permanente no universo.



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